Nasci na cidade de São Paulo, muito cedo letras e traços surgiram em minha vida, juntando-se, separando-se e perdendo-se; formando palavras fáceis ou estranhas, candentes, ameaçadoras ou vazias. Sinais e rastros que logo me maravilharam. E, talvez, desde então tenham sugerido caminhos, como os traços dos brinquedos da infância, três livros até hoje guardados: mitos gregos para crianças; meus amiguinhos de outras terras, a Odisseia, versão infantil. Três fios que se entrelaçaram desde então, o da tradição antiga, o da multiplicidade e o das errâncias.

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Na juventude encontrei um aliado, o polvo, que assinava as estórias criptografadas que fazia circular entre as colegas e que nenhum adulto deveria desvendar. Não era ele um monstro, criatura demoníaca, como afirmavam alguns! Não!  tornou-se um aliado sempre sorridente, cabeça e olhos grandes, um amigo. O monstro era visão enganosa, provam estudos recentes que retomam uma antiga tradição grega que atribui ao polvo uma adaptação inteligente definidora das relações entre as coisas; mistura de atitudes de intuição, habilidade para prever e se desvencilhar de armadilhas, versatilidade, sutileza para se adaptar as mudanças. ‘Inteligência suave’, cunhou Cousteau. Um aliado de valor!

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É certo que as inscrições se modificam e para contornar visões enganosas foi preciso seguir sempre o fascínio das letras e dos traços, saciar as curiosidades, estudar. Formei-me na encruzilhada de vários campos: o bacharelado foi em História, na USP; o Mestrado em Antropologia, na PUC-SP, onde também fiz Doutorado  centrado na  pesquisa sobre escritoras brasileiras do século XIX.

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E também aconteceram viagens, jornadas pelo mundo, caminhadas internas, jornadas pelo

conhecer. Ler, ler sempre, paixão da alma como também paixão pela a aventura de riscar, na página em branco, as letras e sinais para formar um ensaio ou uma narrativa. Uma aventura cheia de obstáculos, meias-voltas, retornos, trabalho duro, esforço, inquietações, dúvidas e grandes prazeres. Aposentada da universidade, não lecionando mais, hoje me dedico a pesquisa, busco o silêncio das leituras e escrituras, horas a mais para esses encantamentos.