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Délia, pesquisas

Norma Telles

Délia é o nome de pena adotado por Maria Benedita da Câmara Bormann durante sua frutuosa carreira literária nas últimas décadas do século passado. Talentosa, jovial e irônica, publicou vários livros e escreveu crônicas, folhetins e contos breves nos principais jornais do Rio de Janeiro de 1880 até sua morte prematura em 1895. Escreveu em estilo elegante que segundo seus admiradores demonstra real talento e erudição, mas para seus detratores e críticos escreveu sobre temas chocantes e eróticos. Nesta breve texto, enfoco o pseudônimo escolhido pela escritora, pois ele desvenda uma opção de vida e um programa artístico.

Essa leitura do pseudônimo como imagem, parte da afirmação de Bachelard que “alguns devaneios são hipóteses de vida, ampliam a vida e nos colocam confiantes no universo.” Entenda-se que para Bachelard, o devaneio é enfrentamento ativo, dinâmico, insistente, penetrante do universo ou então uma aproximação envolvente e acariciante do mundo. Diferente da fantasia ou do sonho noturno, o devaneio é uma estrela que irradia de um centro e provoca repercussões, ressonâncias que sugerem nuanças de linguagem que são nuanças do ser. Passamos de imagens não vividas a imagens que a vida não prepara, mas o artista cria. É preciso somente um pretexto, nunca uma causa, para que se entre em situação de devaneio solitário e se escute os sonhos das palavras escritas (Bachelard:1978).

Certos momentos da escritura e da leitura se cumprem pela intermediação de “instantes agitantes” do corpo; disto resultam estados afetivos e emoções profundas que podem se tornar objeto de uma descrição fenomenológica. A valorização do pormenor é fundamental tanto na epistemologia de Bachelard quanto na sua concepção de imagem poética como captação da atividade da imaginação criadora (e não da reprodutora derivada da percepção e memória) na singularidade de sua eclosão enquanto evento da linguagem. Neste sentido, a imaginação reanima e ilustra a memória.

Délia, o pseudônimo escolhido por esta escritora, pertencente a uma família conhecida e de prestígio no final do século XIX, ressoa a polissemia de uma imagem e a polivalência do ser do devaneio. Em sua repercussão, a imagem terá uma sonoridade do ser. Além disso, assinala o nascimento da escritora, marca um poder derivado de um batismo privado, um segundo eu, um nascimento para a primazia da linguagem (Gilbert e Gubar:1988). O pseudônimo é um ícone do domínio da sensibilidade, da habilidade, registrando fronteiras de erudição e talento, assim como, uma genealogia imaginária. O termo assinala uma ruptura com modelos sociais; com a divisão cultural do conhecimento que se difundiu na cultura através da linha divisória dos gêneros; assinala opções estéticas e marcos da formação social, ao mesmo tempo em que é indicação de uma opção política, pois, sabe-se que nas décadas que precederam a República, nomes romanos eram adotados para sinalizar apoio a causa republicana (von Binzer:1994).

De imediato, esse pseudônimo evoca a antiguidade clássica, o mundo dos eruditos e dos gabinetes, vedado às mulheres. Délia é um epíteto dos gêmeos Artemis e Apolo, referindo-se ao local de seu nascimento, Delos, e aos festivais a eles dedicados. Artemis, a caçadora se tornou a romana Diana e na Roma antiga, Délia epíteto da caçadora solitária, foi o nome escolhido por Tíbulo para cantar sua amada e através dela homenagear o gênio de Safo.

A época em que viveu aquele poeta nos legou imagens de mulheres independentes, assertivas que buscavam autogratificação e escolhiam seus amantes. Tíbulo representou Délia de modo variado: vivendo independente, mantida por alguem ou casada com um homem rico; representou-a à procura de um homem que a patrocinasse, mas em qualquer desses papéis, ela aparece sempre martirizando o poeta (Fanthan et alii:1994). No período, vários outros poetas cantaram assim suas amadas e dentre elas a mais famosa personagem foi a Lésbia dos versos de Catulo. No livro mais importante de Maria Benedita Bormann, Lésbia de 1890, a heroína escritora atribui a si e ao seu parceiro os nomes de Lésbia e Catulo, reafirmando mais uma vez idéias derivadas deste período.

Tíbulo, por sua vez, transcreveu em um de seus livros, poemas de Sulpicia, a única poeta da época romana que ouvimos ainda hoje em sua própria voz. Ela, em seus versos, retratou uma mulher jovem “apaixonada e vacilando entre a arrogância e a vulnerabilidade, autoproteção e desejo” (Fanthan e alii:1994:323).

Assim, a sugestão e a possibilidade da mulher se tornar escritora estão embutidas na escolha do pseudônimo através das diversas referências a autores e a personagens. E os atributos que Sulpicia utiliza para descrever a mulher poderiam sem dificuldade ser atribuídos à Bormann, a Délia que viveu no Rio de Janeiro durante os Oitocentos, e que em seus livros deixa transparecer a moça apaixonada, entre arrogante e vulnerável, a moça que deseja e se empenha em realizar seus desejos.

Além disso, as edições de Tíbulo, das primeiras em livro até as disponíveis no século dezenove, trazem o poeta junto a outros, entre os quais Catulo e Horácio, citados por Maria Benedita Bormann em diferentes momentos de sua obra. E ainda neste universo, devemos incluir o filósofo Epíteto que entre outras coisas, propõe a escrita como parte do cuidado de si (Foucault:1984) e que é colocado por Maria Benedita Bormann como fonte inspiradora da transformação da jovem personagem Bela – no livro Lésbia – em uma escritora.

Grécia e Roma helenizada, no entanto, podem ser metáforas e nomear uma paisagem interior, provendo um padrão policêntrico capaz de segurar personalidades secundárias e impulsos autônomos ao mesmo tempo, fantasias para refletir possibilidades, segundo Hillman (1985). Uma metáfora para o reino imaginário. O retorno à Grécia, ou Roma helenizada, é, segundo o mesmo autor, um dos caminhos oferecidos pela cultura Ocidental para uma regressão quando a visão dominante de um período cultural entra em crise e se quebra. A “consciência regressa a containers anteriores, buscando fontes para a sobrevivência que também ofereçam fontes de revival” (Hillman 1975:28) O retorno não é a um tempo histórico passado, mas é uma oportunidade de rever a própria alma “por meio de locais e pessoas imaginais ao invés de datas e personagens históricos, uma precisão mais de espaço do que de tempo” (Hillman:1975:30); é a localização da consciência em múltiplas figuras e centros. Com esse movimento pode-se re-imaginar os predicamentos históricos e fatuais de outra perspectiva.

Em sua localização, em seu campo de visão, a escritora percebe um país recém saído da dominação colonial portuguesa, profundamente marcado por ela e ainda escravista, e de imediato enredado ao domínio de imperialismos da época, o econômico inglês e o cultural francês. Percebe a co-habitação de diferentes espaços de modo tangível: o espaço da grande plantation e da escravidão, o espaço da modernização e urbanização “à la europeia”; os espaços intermediários de tantas e diferentes vivências dos “homens livres numa sociedade escravocrata”(Franco:1969); espaços de homens diferentes de espaços de mulheres e de escravos; de comerciantes diferente do de funcionários e assim por diante. Descompassos e polirritmia que não se enquadram nas linhas rígidas apregoadas pelos evolucionistas ou positivistas nem nas convencionais divisões das camadas sociais e de gênero. Para obter respostas, Délia, a escritora gaucha que vivia na Corte, precisou rever todas essas vertentes da multiplicidade social escavar fundo nas condições materiais que limitavam sua atividade, indomável na busca de explicações e de novos caminhos.

Ártemis/Diana, era a deusa da natureza indomada que habitava paisagens selvagens, intocadas, a “Rainha mercurial da solidão”. Múltipla em suas manifestações, senhora das coisas selvagens – vegetais ou animais – a caçadora era também protetora de tudo que é vulnerável. O lado sombrio que lhe correspondia era personificado pela poderosa Hécate, senhora das encruzilhadas. Sentimentos a elas relacionados conotam decisão, vulnerabilidade, solicitude, raiva, instabilidade, crueldade. A insistência de Artemis na virgindade significa insistência na inviolabilidade, na separação, no ser plena em si mesma. Essa recusa na entrega é expressão de paixão, tanto por si mesma como pelos locais remotos. Se faz pouco de pretendentes também não tem paciência com as mulheres que não são sinceras consigo mesmas. Por tudo isso, Ártemis/Diana/Délia, a caçadora, tornou-se atraente para mulheres apaixonadas pela liberdade.

As paisagens selvagens, a terra intocada exploradas por Délia, são ela própria, o continente negro, o coração da escuridão que é a mulher no século XIX. O seu principal tema foi: então a mulher vista por ela mesma, ao invés da mulher esboçada pelos escritores, médicos, estudiosos homens. A Délia, personagem do poeta latino, deixou as palavras impressas e se tornou uma escritora falando com sua própria voz. E ao escutá-la percebemos que Maria Benedita Bormann, Délia, deixa entrever sentimentos semelhantes a que aludimos ao tratar da deusa Diana: decisão, vulnerabilidade, solicitude, raiva, ambição e instabilidade. Em seus livros faz pouco dos pretendentes e não tem paciência com as mulheres que, como escreve, “desvivem em carinhos e afetos”. A escritora, no entanto, estava empenhada em traçar novos caminhos para que as jovens compreendessem seus sentimentos e sua sexualidade, pois, dizia, as jovens sofriam por terem sido impregnadas por “superstições românticas” e não terem sido preparadas para a vida. Suas paisagens ermas e solitárias tornam-se também personagens onde busca a plenitude da inteireza em sua cambiante multiplicidade.

O arco da deusa Diana sempre distendido, indica o movimento vertical, o elemento ar, a dialética bahcelardiana entre picos e abismos. A flecha é identificada à arqueira, e se aponta um pensamento justo ela também fere a alma com um tormento profundo. “A imagem da flecha junta corretamente ligeireza e retidão. Ela é dinamicamente inicial” (Bachelard:1978b:72). É palavra indutora que conota a força ascensional que faz com que o ser humano tome consciência de seu destino. Elevar-se e permanecer sempre à beira do abismo.

Nas paragens ermas de Ártemis/Diana, há o perigo da perda da capacidade de comunicação humana. Mas ai também se encontra um antídoto. A deusa tece redes (diktuon) para caçar ou pescar. As metáforas se ligam e entrelaçam: rede, tecer, ligar, enredar e chegam em texto, do latim “tecer, trincar, trançar”, termos que se referem tanto à complexidade psíquica (estar atado, chegar ao fim da corda, estardalhaço), como à linguagem. As palavras então podem ser selvagens ou evasivas (Simmer:1980), escorregadias, recusarem-se a ser domadas. A rede (diktuon) de Diana pode ter urdiduras sutis (do latim sub-tela, “debaixo da rede”) para capturar o remoto. A rede de Diana não impõe estrutura à linguagem, mas surge do agreste, da rebeldia da própria linguagem, da complexidade entrelaçada do nexo das palavras. No cosmos de Diana, os nós da linguagem não são heroicamente desmanchados, são desfeitos pela noite para libertar o animal na região agreste. Selvagem e agreste referem-se a aspectos da palavra que não permitem a redução ao utilitário, ao domesticado, mas se referem a força que mantém a linguagem livre.

Em sua escrita, Maria Benedita Bormann é extremamente cuidadosa no emprego das palavras provocando com elas ressonâncias e encadeamentos. Bilingue, multilíngue recorta várias línguas fazendo bricolagens para refazer sentidos. Faz experimentações com linguagens, emprega elipses gráficas para assinalar o transcurso do tempo, provocando estranhamento no leitor.

O pseudônimo aponta também em direção ao Renascimento através do livro de Maurice Scève, Délie (1544). Scève fazia parte de um grupo de humanistas lioneses que incluía várias poetas entre as quais Luize Labé, tida como a Safo do século XVI e mencionada por Saint-Beuve, um dos autores citados por Bormann em mais de uma passagem. Em francês délie quer dizer delicado, porém, Scève empregou a palavra como anagrama para l’idée, a idéia. Escusado dizer que Renascimento também é uma metáfora para a psique. Inclui a antigüidade clássica como metáfora viva, oferecendo uma vida “presente” construída sobre modelos localizados no passado. E este é o locus da deusa Fortuna, onde tudo tem lugar, “nenhuma posição ou forma é inerentemente inferior ou superior, moral ou imoral, pois a roda gira e a ambigüidade da alma significa que vício e virtude não podem ser separados” (Hillman:1979:200).

A idéia, para Bormann, da escrita como leitura de possibilidades presidida por Fortuna torna a autora tão cambiante quanto os movimentos da roda: ora isso, ora aquilo; ora alegre, ora triste, ora irônica; ora profunda ora superficial; ora genial, ora banal, e assim por diante. E talvez possamos nos perguntar se além dos espaços contidos no pseudônimo, as camadas de tempo/épocas superpostas não representariam imperialismos anteriores que acabaram por suas próprias contradições. Por meio de Grécia, Roma e Renascimento talvez esteja fazendo também uma arqueologia dos discursos coloniais, dos vários imperialismos até aos que lhe são contemporâneos.

A escolha do pseudônimo mostra que Maria Benedita Bormann investe contra a tradicional noção do conhecimento, as meninas se educam para serem donas de casa, os homens para serem administradores e criadores de cultura do que se segue que as moças devem entender de sentimentos e os homens de todo o restante do campo do conhecer. Mas a escritora se apropriou de vários saberes: o dos poetas e filósofos, escritores, médicos e “psicologistas” como denomina os que tratam das paixões, historiadores e cientistas e os empregou em suas construções diferenciadas.

Em relação ao contexto em que viveu, o pseudônimo Délia é referência subversiva em currículo de estudos femininos. A partir de 1859, um programa de estudos projetado pelo catolicismo ultramontano se implanta no Brasil sendo adotado também por escolas laicas. A teoria da história deste modelo considerava que a partir do Renascimento o homem passara a ser pervertido por idéias funestas. O programa pretendia reverter a situação, sustando o mundo moderno do capitalismo, materialismo e ciência (Manoel:1996). Para a educação das meninas tomavam-se alguns exemplos de virtuosas matronas romanas para efeito de modelos a serem seguidos, nunca personagens como Délia ou pessoas como a poeta Sulpicia. O objetivo era dar as moças uma educação de salão, prepará-las para a conversação, nunca para as letras ou profissões. Numa época em que as revistas femininas eram instrumento de padronização e elaboração de um gosto internacional comum, como o eram do que com muita propriedade Meyer denomina a “internacional romanceira”, é inegável que o contra-ataque do catolicismo ultramontano foi bem- sucedido em sua ação dominadora e unificadora. Esta ação não se dava somente no nível dos currículos escolares mas também pode ser atestada com os índices de livros proibidos para moças que incluíam quase tudo, de romances a livros naturalistas (Heller:1997).

O pseudônimo assinala também a escolha de uma genealogia feminina imaginária que vem de Safo e passa por Délia, personagem romana que homenageia a grega famosa, e por todas as Safos dos séculos subsequentes, explicitamente, pela Safo que dominou Paris em meados do século XIX, George Sand, de quem Bormann escreve: demonstrou “o quanto pode o gênio em peito feminino”.

E, finalmente, nesse pseudônimo pode-se também ler um projeto estético/artístico. “Todo projeto é contextura de imagem e pensamento que supõe um empreendimento sobre a realidade” diz Bachelard (1978). A escritora se diz eclética, isto é, não se deixa fixar em nenhuma escola literária mas delas retira “o que de melhor encontra para seus propósitos”. Vai fabricando com estórias que vêm de fora e com as estórias de dentro, duas línguas maternas, elação e extrema angústia, através da liberdade da criação e da repulsa à repetição de regras, em uma estética mestiça onde com audácia mistura os profundos conflitos e tensões à supremas elevações. A paixão e o desconsolo estão presentes em suas “tramas viris” combinadas ao “elegante estilo feminil que desvenda os mais profundos mistérios” da psicologia das personagens e das almas. O projeto artístico se propõe, em múltiplas variações do tema, a desvelar o coração da escuridão que é a mulher criadora da vida e da arte numa sociedade em mutação onde imperava a escravidão, o favor. Onde o talento não era reconhecido e a mulher não deveria ser escritora.

Numa intuição do instante, a escolha do pseudônimo Délia aglutinou uma miríade de fragmentos que dizem respeito aos devaneios criativos mas também a Maria Benedita Bormann. O instante, segundo Bachelard, é o dado imediato da consciência, a duração só é apreendida secundariamente, enquanto construção. Ao escrever a narrativa é que “o escritor coloca o liame da duração” (1971:19). A duração está na gramática e na sintaxe. Como a vida é descontinuidade de atos, estar atento ao pormenor nos permitiu compreender o instante de devaneio de Délia, nuanças de sua linguagem como nuanças do ser e escutar a sonoridade polissêmica do pseudônimo escolhido num devaneio que escapa ao meio-dia da imaginação apolínea e conduz às ermas paragens de Artemis/Diana/Délia.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFCAS

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