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Margaret Mead – Aspectos do Presente
Norma Telles
Margaret Mead
Aspectos do Presente reúne artigos escritos por Margaret Mead de 1969 a 1978, anos que correspondem aos últimos de vida da autora. Selecionados por Rhoda Metraux, os artigos discutem os assuntos mais variados — casamento e divórcio, a mulher atual, tabus, festas, criminalidade e pena de morte (que considera um atentado aos direitos humanos). Examina também, mas sem extrair maiores ilações, os perigos ecológicos, o ar, a água e o desarmamento. Particularmente interessantes são suas sugestões para uma legislação de assistência social, em meio às quais analisa um quadro revelado pelas pesquisas americanas: uma porcentagem significativa de unidades familiares é formada apenas por uma mulher e seus filhos.
A família americana é, por sinal, um dos grandes temas que perpassam todo o livro. Como reformulá-la? Margaret Mead não duvida de que ela possa e deva ser reformulada, mas sempre em termos da família nuclear, “Todo lar”, ela escreve, “precisa de dois adultos, mas é preciso rearticular outras espécies de lar, por exemplo, formados por dois adultos do mesmo sexo — duas irmãs ou amigas e respectivos filhos. Ou incluir adultos de duas gerações, ou outros.” Ela propõe também que os solteiros sejam incorporados à família assim como as pessoas idosas. São sugestões destinadas a garantir maior flexibilidade para a família americana. Assim, esta deveria conservar sua identidade e as diversas individualidades de crianças e adultos, e, ao mesmo tempo, vincular-se mais responsavelmente com comunidades maiores.
A preocupação central de todos os artigos é o futuro das crianças, que deve sei moldado pela educação. A insuficiência de seu método antropológico, porém, transparece nesses artigos, quando elege a educação como panacéia universal, desprezando as determinações do social. Margaret Mead acredita que tudo é fruto da educação, ai compreendidas as supostas características femininas e masculinas. O que preconiza, em última instância, é uma forma cientificamente melhorada do sonho americano. Talvez o que mais caracterize esta “pregadora do meio-oeste”, como a chamou Lévi-Strauss, sejam as certezas que quer partilhar. E mesmo aqueles que entre nós não compartilham de todas as suas idéias nem de seu otimismo e entusiasmo não podem deixar de admirar a inteligência e a convicção que ela imprime a suas idéias.
IstoÉ 12/05/1982